Como calcular o Deságio de uma Usina solar de Locação

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Uma das principais diferenças entre os modelos de negócio turn-key e de locação de usina é o deságio.

O que é o deságio nesse caso?

O deságio (que eu gosto de chamar de “benefício repassado”) nada mais é do a parte do benefício que o investidor deve abrir mão para que o modelo de negócio faça sentido.

Vamos relembrar rapidamente como funciona o modelo de negócio turn-key.

1. Como funciona o modelo turn-key

No modelo turn-key o consumidor investe na usina e utiliza a energia gerada por essa usina para compensar seu próprio consumo.

Apesar da venda de energia ser proibida no SCEE (Sistema de Compensação de Energia Elétrica) e a distribuidora não depositar dinheiro na conta desse consumidor, essa compensação gera uma economia.

Essa economia é o retorno financeiro que o investidor tem, e que torna o investimento um bom negócio.

Qual será o benefício financeiro desse cara?

A economia desse cara vem de 2 “lugares”:

  • da energia consumida instantaneamente (simultaneidade); e
  • da energia injetada na rede e posteriormente compensada.

Chamaremos o primeiro de “Benefício da Simultaneidade” e o segundo de “Benefício da Injetada”.

Vamos agora ver qual a diferença para o modelo de locação.

2. Como funciona o modelo de locação

Talvez você esteja se perguntando:

– “No modelo de locação também não é assim que calcula o benefício financeiro?”

Quase isso.

Para o modelo de locação fazer sentido, o consumidor que está locando uma cota de usina deve sentir uma economia por participar do negócio.

O que é uma cota?

Suponha que a usina seja dividida em 100 cotas possíveis de serem alugadas. Dessa forma, cada cota dá direito a 1% da geração da usina. Esse é o significado de cota.

Exemplo:

Se o consumidor paga R$ 90 de aluguel em uma cota da usina, ele não pode receber só R$ 90 de economia na fatura.

Ele tem que economizar mais de R$ 90 para o negócio fazer sentido.

O investidor pode ofertar para o consumidor uma economia de X%. Em outras palavras, o investidor vai “absorver” uma parte da conta do consumidor.

Se o consumidor pagar um aluguel de R$ 90 e receber R$ 100 de economia na fatura, o negócio já começa a fazer sentido.

Nesse caso, ele estaria recebendo uma economia de 10%.

Esses 10% é um benefício que o investidor precisa obrigatoriamente abrir mão para o modelo de negócio fazer sentido.

2.1. Benefício repassado aos Cotistas (primeira parcela)

Essa parcela de benefício que o investidor abre mão é a primeira parcela do que chamamos de Benefício Repassado. Chamaremos essa parcela de “Repasse aos Cotistas”.

Vamos relembrar quais são os benefícios proporcionados por um sistema solar (que já falamos lá no início do post):

  • Benefício da Simultaneidade; e
  • Benefício da Injetada.

Colocando na forma matemática, o Benefício da Geração é:

Benefício da geração = Benef. da Simultaneidade + Benef. da Injetada

(I)

O benefício que será repassado para os consumidores (através do rateio de créditos) será 100% retirado do Benefício da Injetada.

Como o Benefício da Simultaneidade é referente à energia consumida instantaneamente, por motivos óbvios, ele não pode ser repassado através do rateio.

O benefício repassado para os cotistas da usina (consumidores) é calculado retirando-se uma porcentagem diretamente do Benefício da Injetada.

Como é calculado o Repasse aos Cotistas?

O Repasse aos Cotistas é a diferença entre a economia que eles recebem na conta e o aluguel que eles pagam.

Na forma matemática, generalizando para toda a usina, podemos dizer que o Repasse aos Cotistas é:

Repasse aos Cotistas = Benefício da Injetada – Aluguel

(II)

Como já dissemos mais acima, o aluguel deve ser precificado de tal forma que o cotista sinta uma economia de X%.

Como precificamos o aluguel?

O aluguel pode ser calculado por:

Aluguel = Benefício da Injetada * (1 – %Prometida)

(III)

Substituindo a fórmula (III) em (II), temos:

Repasse aos Cotistas = Benef. da Injetada – (Benef. da Injetada * (1 – %Prometida))

Repasse aos Cotistas = Benef. da Injetada * %Prometida

Encontramos assim a primeira parcela do benefício total que o investidor (dono da usina) precisa abrir mão. Essa primeira parcela é obrigatória; o investidor precisa obrigatoriamente abrir mão dela para o modelo de negócio fazer sentido.

Existe uma segunda parcela que o investidor pode ter que abrir mão, mas não é obrigatória.

Essa segunda parcela é o benefício repassado à gestora.

2.2. Benefício repassado à Gestora (segunda parcela)

Vamos relembrar a divisão dos benefícios que vimos até aqui.

Da fórmula (I) sabemos que o Benefício da Geração é:

Benefício da Geração = Benef. da Simultaneidade + Benef. da Injetada

Reajustando a fórmula (II) tiramos que o Benefício da Injetada é:

Benefício da Injetada = Aluguel + Repasse aos Cotistas

O investidor (dono da usina) repassa então uma parcela do Benefício da Injetada para os cotistas, proporcional à economia prometida.

Ou seja, reajustando mais uma vez a fórmula (II) temos que o Aluguel é:

Aluguel = Benefício da Injetada – Repasse aos Cotistas

Vamos definir aqui o conceito de Benefício Bruto:

Benefício Bruto é o nome que daremos para o valor que o dono da usina recebe na conta bancária dele.

Por que o nome “Bruto”? Porque com esse valor o investidor precisa pagar todos os custos, e ainda precisa sobrar um lucro (que chamaremos de Benefício Líquido).

Nesse caso, podemos dizer que o Benefício Bruto é igual ao Aluguel:

Benefício Bruto = Aluguel

Manter a usina 100% alugada dá trabalho. Você precisa arrumar vários locatários, gerir contratos, correr atrás de novos locatários quando alguém resolver sair. Não é uma tarefa simples.

Uma forma de você ficar tranquilo quanto a isso é colocando uma gestora para intermediar o negócio.

A gestora faz a intermediação entre o investidor e os consumidores.

Obviamente, ela cobra um valor para fazer essa intermediação. Esse valor cobrado pela gestora é a segunda parcela do Benefício Repassado. Vamos chamar essa segunda parcela de “Repasse à Gestora”.

Acrescentando essa segunda parcela, podemos dizer então que a fórmula mais correta para o Benefício Bruto é:

Benefício Bruto = Aluguel – Repasse à Gestora

(IV)

Caso o investidor opte por não contratar uma gestora para intermediar o negócio, o Repasse à Gestora é zero e o Benefício Bruto volta a ser igual ao aluguel. Traduzindo metamaticamente temos:

Repasse à Gestora = 0

Benefício Bruto = Aluguel – 0 = Aluguel

Como é calculado o benefício repassado à gestora?

Como já apresentado na fórmula acima, o Repasse à Gestora é retirado diretamente do aluguel.

A gestora pode fazer essa cobrança de 2 maneiras:

  • estipular um valor independente do aluguel; ou
  • estipular um valor atrelado ao aluguel (% do aluguel).

Muitas gestoras se auto intitulam de “comercializadoras”. Geralmente essas empresa precificam o aluguel dizendo “pagando R$ X no kWh gerado pela sua usina”. Comercializar energia é proibido no SCEE, e isso é bem claro.

Se eu pudesse te dar um conselho, seria: fuja desse tipo de gestora para evitar dor de cabeça.

2.3. Benefício repassado Total

Podemos dizer que o Benefício Repassado é:

Benefício Repassado = Repasse aos Cotistas + Repasse à Gestora

De onde cada repasse é calculado?

  • o Repasse aos Cotistas é retirado do Benefício da Injetada; e
  • o Repasse à Gestora é retirado do aluguel.

O repasse aos cotista é uma parcela da conta dos cotistas que o dono da usina absorve, e o repasse à gestora é o preço cobrado por ela.

Dessa forma, podemos dizer que o Benefício Bruto (dinheiro que o investidor recebe na conta) então é:

Benefício Bruto = Aluguel – Benefício Repassado

Sabendo que o aluguel é

Aluguel = Benefício da Injetada – Repasse aos Cotistas

outra forma de escrever o Benefício Bruto é

Benefício Bruto = Benef. da Injetada – Repasse aos Cotistas – Repasse à Gestora

3. Conclusão

É assim que você calcula quanto de dinheiro o investidor (dono da usina) deverá repassar aos interessados do projeto (consumidores e gestora).

Vale lembrar que desse dinheiro que o investidor recebe na conta (Benefício Bruto), ele ainda precisa tirar todos os custos de operação da usina (OPEX) e pagar o imposto referente ao aluguel recebido. Só depois disso é que sobrará o lucro (Benefício Líquido).

Vale ressaltar aqui 2 pontos importantes:

  • calcular o Benefício da Injetada não é fácil (porque achar o valor exato da energia injetada é complexo); e
  • calcular o OPEX também exige muita atenção aos detalhes.

Investir em uma usina de locação é um projeto complexo, que exige um investimento inicial muito alto e tem muitos custos envolvidos. Esse tipo de projeto exige um cálculo muito detalhado.

Se você estiver precisando fazer uma análise de viabilidade para um cliente e não se sentir seguro para isso, é só entrar em contato comigo por este link aqui.

Espero que tenha contribuído com algo.

Fique com Deus e até a próxima.